O mal-estar no trabalho
Introdução
Segundo dados da OMS¹ (Organização Mundial de Saúde) a Depressão será, em 2020, a principal causa de incapacitação para o trabalho em todo o mundo. Mas se, como postulava Freud (1930) em O mal-estar na Civilização, o trabalho é uma das formas de encontrar o pouco do quinhão de felicidade que nos cabe em vida, nos perguntamos então: por que o homem hoje encontra tristeza no seu labor? São realmente deprimidos todos estes tantos trabalhadores? Esta questão, que me interpela enquanto também trabalhadora e pensadora social, será o assunto que tratarei ao longo desta apresentação, usando como referencial teórico a psicanálise Freudo-lacaniana e também outros autores contemporâneos que discutem a questão da saúde mental relacionada ao trabalho e o próprio trabalho.
A Psicanálise fundada por Freud tem suas raízes fincadas na história do homem moderno e seu espaço de atuação assegurado por uma prática ética e pertinente nos dias atuais, pelo menos aquela que se refere ao campo lacaniano, prática que se propõe a não fugir dos postulados freudianos, sem, contudo, deixar de repensar seus conceitos a partir da experiência clínica.
A Psicanálise nasceu através da própria experiência enquanto clínico do seu fundador e, desde então, nunca se desvinculou deste caráter de vivência pessoal, única e irrepetível acontecida no divã, embora seja pensada também como base de entendimento para as diversas esferas da sociedade contemporânea. Diferenciando-se da Psicologia, que sempre teve em seus postulados uma preocupação com a cura, a saúde e a busca do Bem (Badiou, 1993), através da escuta do consciente e a sua compreensão, a Psicanálise retira deste mesmo consciente o lugar de verdade do sujeito e coloca sua atenção no fenômeno do inconsciente, este sendo o lugar do desconhecimento, da ignorância, só acessível por meio de suas manifestações tais como os sintomas, sonhos, atos falhos e chistes. Para a psicanálise homem não é mais o ser autônomo e