Mal estar no trabalho: do sofrimento ao poder agir
Mal-estar no trabalho: do sofrimento ao poder de agir
Pedro F. Bendassolli
Professor Adjunto I no Departamento de Psicologia da
UFRN. Pós-doutor pela Université Paris 9. Doutor em psicologia social pela USP
End: Av. Senador Salgado Filho, s/n, Campus Universitário
59078-970 – Natal – RN. Universidade Federal do Rio
Grande do Norte. Departamento de Psicologia e-mail: pbendassolli@gmail.com
Resumo
A segunda metade do século passado é a época da institucionalização do tema do sofrimento no trabalho, especialmente o de natureza mental. Porém, mais do que uma categoria psicológica, o sofrimento parece ter se transformado em uma nova chave para se discutir o trabalho, seu significado, seu valor e sua função na compreensão da subjetividade, como também do modo como se estruturam os laços sociais e se vive em sociedade. Se, de um lado, não parece restarem dúvidas de que o sofrimento no trabalho, como modalidade de mal-estar, é uma categoria analítica que norteia a ação de diversos atores que pesquisam e intervêm nesse campo, de outro, parece menos comum a existência de debates sobre a natureza, as razões e implicações dessa tomada de posição diante do sujeito e o trabalho.
O objetivo deste artigo é contribuir nessa direção. Argumenta-se que a retórica do sofrimento posiciona o sujeito como um ser
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vulnerável que necessita de contínuo subsídio e apoio para agir, ao passo que o próprio trabalho é concebido como uma ameaça. O artigo realiza uma discussão sobre as possibilidades que se abrem a partir de um deslocamento do sujeito do sofrimento para o sujeito da ação, e do trabalho como fator de adoecimento para o trabalho como atividade criadora.
Palavras-chaves: Trabalho e subjetividade; mal-estar no trabalho; clínica da atividade; psicologia da ação; psicologia do trabalho.
Abstract
The second half of the 20th century is the time of the institutionalization of suffering at work, and especially of