o ensino
Bate o sinal que mais parece um alarme de incêndio. Os alunos, dando cascudos uns nos outros, entram às carreiras na sala de aula e se ajeitam nas carteiras enfileiradas. Sobram ainda beliscões e cutucões no colega da frente, antes da entrada da professora.
Dez minutos de atraso e ela finalmente chega. Carrega consigo, numa sacola, uma carrada de livros didáticos.
Silêncio de todos: hora da chamada. Canto dos números, de 1 a 37, ao que se responde "presente", "estou aqui", ou "faltou". Mais 6 minutos são gastos nessa tarefa.
Apaga a lousa, olhando de esguelha para os mais irrequietos. Diz que a sala está uma sujeira – que lugar do lixo é no lixo. Caminha até a mesa. Pega a pesada sacola de livros e faz uma pilha sobre a mesa. Senta-se. Respira fundo. Tira um espelhinho da bolsa. Dá uma olhada na maquiagem. E começa a abrir livro por livro, selecionando exercícios para a lição do dia. E, aí, vão mais 10 intermináveis minutos nessa seleção.
Levanta-se. Bate na manga do jaleco para tirar um cisco. Solta um estridente "psiu", que reverbera pela sala e impõe o necessário silêncio. Cruza o espaço e segue até ao armário lá no fundo. Procura a chave, não acha. Volta vagarosamente em direção à mesa. No meio dos penduricalhos da bolsa, encontra finalmente a chave. Solta um
"ufa" de felicidade e viaja de volta ao armário. Abre-o. Pega uma caixa de giz branco e um apagador. Esse ritual de vai-e-vem, acompanhado pelos olhos das 34 crianças presentes à aula, demora mais 5 minutos.
Depois de ameaçar de mandar para a diretoria dois alunos que estavam conversando – "Onde já se viu vocês dois aí! Querem ter uma conversinha com o diretor, é?" -, começa a transcrever na lousa os exercícios pinçados dos livros didáticos. Letra bem redondinha, pedagógica. De costas para os alunos, irrita-se com o zum-zum-zum e emite um estrondoso "chiú" que faz tremer as paredes. Enche o quadro com tarefas