O designer, cultura material e o fetichismo
ARCOS VOLUME 1 1998 NÚMERO ÚNICO
Gloria Swanson fotografada por Edward Steichen em 1926.
artigo
Design, cultura material e
o fetichismo dos objetos
Rafael Cardoso Denis
O presente artigo, apesar de escrito por um historiador, não pode ser entendido como um texto de história propriamente dita; faltar-lhe-ia para tanto maior rigor na justaposição de conceitos mais ou menos díspares no tempo e no espaço. Igualmente, e apesar de tratar da linguagem que usamos para discutir o design, não pode nem de longe ser considerado um texto de comunicação ou de lingüística pelo total despreparo teórico do autor para opinar sobre assuntos desta alçada. Aliás, mesmo aparecendo em uma revista científica, o presente texto deve ser lido menos como um artigo acadêmico do que como um ensaio ou, mais precisamente, como um exercício de especulação que talvez contribua com alguns subsídios para o grande desafio, enfrentado por todos os que pensam o design, de redefinir os significados do campo em um momento de transformação profunda face ao crescimento espetacular das tecnologias da informação e ao desmoronamento não menos dramático do arcabouço ideológico do Modernismo. Quem não estiver disposto a tolerar considerações um tanto imprecisas deve, portanto, parar a leitura por aqui. Aos que permanecerem, peço uma boa dose de paciência e ressalto, ao assumir a primeira pessoa, a natureza eminentemente opinativa das páginas que seguem.
“Il y a bien des sortes de fétichisme concernant les objets.”
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A crise atual do design
Qualquer discussão do futuro (e mesmo do passado) do design como campo profissional precisa levar em conta a questão da natureza essencial desta atividade. O que é o design, afinal? Existem literalmente centenas de definições e não pretendo acrescentar mais outra, pelo menos não por enquanto. Apenas desejo apontar para uma dialética fundamental que permeia esse velho debate, a qual estabelece o que talvez seja o parâmetro