O cenário racial no século XIX
Em 1810, tratados firmados entre a coroa portuguesa no Brasil e a Inglaterra determinavam a abolição do tráfi¬co, uma proibição, na prática, meramente de fachada, pois o comércio continuou. Somente em 1850 a lei Eusébio de Queiroz aboliu definitivamente o tráfico.
A partir daí, a defesa da abolição total da escravatura passou a ser a bandeira de alguns setores da nossa econo¬mia: a oligarquia cafeeira do Oeste Paulista, interessada em atrair mão de obra imigrante, e os primeiros empre¬sários industriais, que desejavam mercado consumidor interno e mão de obra europeia, mais qualificada.
Além disso, a influência de teorias racistas europeias, que defendiam a ideia da superioridade racial e cultural do caucasiano loiro, impôs ao Brasil uma visão de branqueamento de sua população através do mulato, fruto da mistura étnica entre o branco e o negro primeiro passa para o "projeto" de branqueamento total.
Dessa forma, tornavam-se fundamentais a abolição da escravatura e a vinda do branco europeu, processos que acelerariam esse branqueamento. Na ocasião, alguns teóricos nacionais cultuavam as capacidades de alemães e italianos e, em contrapartida, desprezavam nossa ori¬gem racial, taxando-a de triste e preguiçosa, preconceitos ainda presentes no nosso meio.
Grosso modo, a abolição da escravatura no Brasil co¬nheceu dois caminhos. No Nordeste, que vivia a deca¬dência da estrutura latifundiária, já que o algodão e o açúcar estavam sem capacidade de concorrência no mer¬cado internacional, os proprietários rurais verdadeiramente não mais podiam manter a mão de obra escrava. Como a região não possuía uma economia dinâmica nas áreas urbanas, os negros libertos permaneciam nas fazen¬das como agregados ou dependentes. Assim, no Nordes¬te brasileiro a abolição transformou o escravismo num re¬gime de trabalho semi-servil.
No Centro-Sul, com melhor equipamento urbano esti¬mulado pelos investimentos do capital cafeeiro na indús¬tria, o negro pôde