O caminho da servidao
F. A. Hayek
INTRODUÇÃO
Podemos aprender do passado e evitar a repetição de um processo indesejável. Faz-se hoje necessário declarar esta verdade amarga: é o destino da Alemanha que estamos em perigo de seguir. Se, a longo prazo, somos os criadores do nosso destino, de imediato somos escravos das idéias que criamos. Somente reconhecendo o perigo a tempo poderemos ter esperança de evitá-lo.
Os que estudam as correntes de idéias dificilmente deixarão de observar que há mais do que uma semelhança superficial entre o rumo do pensamento na Alemanha durante e após a Primeira Guerra Mundial e o atual rumo das idéias na Inglaterra. Há o mesmo desprezo pelo liberalismo do século XIX, o mesmo e espúrio "realismo" e até cinismo, a mesma aceitação fatalista de "tendências inevitáveis". Fui progressivamente me convencendo de que no mínimo algumas das forças que destruíram a liberdade na Alemanha também estão em atividade aqui, e de que o caráter e a origem desse perigo são, se possível, menos compreendidos entre nós do que o foram na Alemanha.
Poucos estão prontos a reconhecer que a ascensão do nazismo e do fascismo não foi uma reação contra as tendências socialistas do período precedente, mas o resultado necessário dessas mesmas tendências. O importante é que, se considerarmos as pessoas cujas opiniões influem nos acontecimentos neste país, todas elas são em certo sentido socialistas. É porque quase todos o desejam que estamos marchando na direção do socialismo. A questão está em saber aonde esse movimento nos levará.
O problema não está em saber porque os alemães, como tais, são pervertidos, pois não é congenitamente provável que o sejam mais do que qualquer outro povo, mas em determinar as circunstâncias que durante os últimos setenta anos possibilitaram o desenvolvimento progressivo e a vitória final de um determinado conjunto de idéias, e em verificar por que motivo essa vitória acabou erguendo às primeiras posições os indivíduos mais