A partir da página 48, o livro aborda o tema da coexistência de processos conscientes e não conscientes, sendo que a ideia de que sob a mente consciente se escondem processos mentais inconscientes não é nova. Foi exposta pela primeira vez há mais de cem anos, recebida pelo público com certa surpresa, mas hoje já é coisa batida. O que a maioria não compreende plenamente, embora esteja bem estabelecido, é que, muito antes de possuírem mente, os seres vivos já mostravam comportamentos eficientes e adaptativos que, para todos os efeitos, assemelhavam-se aos que surgem nas criaturas dotadas de mente e consciência. Em resumo, o caso não é só que processos conscientes e não conscientes coexistem, mas que os processos não conscientes que são importantes para manter a vida podem existir sem seus parceiros conscientes. No que diz respeito à mente e à consciência, a evolução ensejou diferentes tipos de cérebro. Há o tipo de cérebro que produz comportamento, mas não parece possuir mente ou consciência; um exemplo é o sistema nervoso da Aplysia californica, uma lesma do mar. Outro tipo produz a série inteira de fenômenos (comportamento, mente e consciência) e desse tipo o cérebro humano é obviamente o exemplo por excelência. E um terceiro tipo de cérebro claramente produz comportamento, talvez produza uma mente, mas não está tão claro se gera ou não uma consciência no sentido aqui exposto. É o caso dos insetos. As surpresas não terminam com a ideia de que, na ausência de mente e consciência, cérebros podem produzir comportamentos dignos do nome. Acontece que seres vivos sem cérebro algum, inclusive unicelulares, também apresentam um comportamento aparentemente inteligente e deliberado. E esse também é um fato ao qual não se dá a devida atenção. Conforme embarcamos nesse estudo retrospectivo, porém, evidencia-se que para explicar o surgimento de cérebros em tempos tão remotos precisamos retroceder ainda mais no passado, voltar ainda mais ao mundo das formas de vida