Resenha: E o cerebro criou o homem
Trata-se de um livro muito ambicioso, o que é uma virtude no campo da ciência. Bem escrito, às vezes com tom literário, devido às metáforas estéticas empregadas na análise da “sinfonia” do sistema nervoso. Esse estilo é parte do esforço de solucionar a questão do método de escrita, ainda mais se levarmos em conta que ele foi redigido para ser lido por um público que vai além das fronteiras das pessoas diretamente ligadas às ciências. Fator corroborado pelas entrevistas concedidas a jornais de grande circulação (como a Folha de S. Paulo, aqui no Brasil).
A ousadia pode ser notada nas questões propostas pelo autor e nas dificuldades metodológicas delas decorrentes, particularmente os obstáculos de fundamentação empírica que uma pesquisa dessa monta exige (reconhecidos pelo autor, de modo que a obra também merece ser lida com respeito e atenção pela humildade acadêmica de Damásio, semelhante à que encontramos em A origem das espécies, de Darwin). Ao mesmo tempo, chamou nossa atenção certa dialética presente no tratamento do objeto de investigação e no diálogo com as ciências humanas. Diálogo que, às vezes, extrapola o âmbito da produção de conhecimento sobre o ser humano e adentra no terreno da práxis propriamente dita, como no momento em que Damásio defende uma justiça que recorra menos ao senso comum e mais ao saber científico, “para promover a elaboração de leis mais realistas e preparar as futuras gerações para o controle responsável de suas ações”[3]. Na senda aberta, ao menos, desde Francis Bacon, saber é poder.
A que se propôs o autor? Investigar as bases anatômica e fisiológica