A voz da benedito calixto
Por André Henrique e Lailson Nascimento
A garoa poderia até estragar os planos de um fim de semana. O caminhar entre aqueles objetos de diversas cores, tamanhos e formas que contrastavam com o cinza do céu revelava as surpresas de uma praça cheia de riquezas. Já pela manhã era possível ouvir o som com aspecto arranhado que atraia os visitantes a descobrir de onde vinha. Passar em frente era inevitável. Lá se encontrava senhor Jorge Narciso Caleiro, que, sentado em seu banco acompanha o movimento.
Jorge, 78 anos, trabalhava como bancário e não tinha experiência nenhuma em vendas, não sabia como era o trabalho de um empreendedor, mas ao ser demitido, encontrou em sua velha coleção de discos a oportunidade de sair da crise. “Minha mulher falou que eu tinha que abrir uma lojinha, com o recurso que eu recebi do banco. Mas não quis, achei que a feira me faria bem, finalmente eu sairia da rotina. Então, peguei alguns lp’s e fui com meu filho para a feira do Bixiga”, confessa .
Seu primeiro contato com as vendas não foi muito animador, não em função de clientes, mas pela organizadora da feira de artes. “Chegando lá, espalhei os discos no chão, e comecei a oferecê-los. Já na primeira hora vieram alguns interessados, mas em pouco tempo fui expulso por uma senhora dizendo que só cristais eram vendidos ali. Tentei ainda arranjar um espaço, mas foi em vão. Aquela mulher era invencível”, lamenta Caleiro rindo da situação.
Sem se abater, encontrou um espaço interessante para seus produtos, onde desde o começo a proposta era a diversidade artística e cultural. Dessa forma, passou a levar seus produtos para a feira da Benedito Calixto. Foi recebido pela artista plástica Rachel Morais, que comercializava suas obras.
A aventura de Jorge quase não foi a diante. O expositor diz ter pensado até em desistir, pois não havia retorno. “No começo foi difícil. O primeiro dia