A polifonia segundo bakhtin
O grande centro temático de todas as ramificações do pensamento bakhtiniano está na prosa artística, mais especificamente no romance. Em sua obra mais famosa, “Problemas da Poética de Dostoiévski”, embora o tema central seja a literatura de Dostoiévski, a discussão sobre o romance como gênero aparece em vários momentos, sempre relacionada à discussão sobre a natureza da linguagem, literária ou não, como, aliás, foi a marca de todo o trabalho de Bakhtin. Parte substancial de suas categorias se encontra neste livro, em particular o conceito de “polifonia”, que ficaria célebre pelo mundo inteiro como uma das marcas maiores do pensamento bakhtiniano.
Para Bakhtin, Dostoiévski foi o criador de um novo gênero literário, o romance polifônico, cuja característica marcante (entre outras exigências) estaria no fato de que na obra do romancista russo as vozes que ressoam no texto não se sujeitam a um narrador centralizante (como em geral acontece no romance considerado tradicional); elas relacionam-se umas às outras em “condições de igualdade”.
Bakhtin dá vários passos surpreendentes com a criação desta categoria, que tem componentes ideológicos muito atraentes para o nosso tempo, como veremos. O primeiro é uma nova definição da originalidade de Dostoiévski: o que poderia parecer um “defeito formal” em Dostoiévski, o seu suposto “mal acabamento”, era de fato a expressão de uma literatura cujo centro estava exatamente na idéia do “não-acabamento” do homem, um conceito bastante produtivo na visão