A metafísica de descartes

2237 palavras 9 páginas
A metafísica de Descartes
John Cottingham
Tradução de Jaimir Conte
Filósofo e matemático francês, seria difícil sobrestimar a influência filosófica de René Descartes (1596-1650). Freqüentemente denominado “pai da filosofia moderna,” os seus argumentos sobre a dúvida, os fundamentos do conhecimento, e a natureza da mente humana, são bem conhecidos de inúmeros estudantes. Mas enquanto as idéias cartesianas quase inevitavelmente formam o ponto de partida para o nosso entendimento de como a epistemologia e a filosofia da mente se desenvolveram a partir do início do período moderno até aos dias atuais, a situação no que diz respeito à metafísica não é tão simples. Há alguns indícios de que os próprios interesses motivadores de Descartes na filosofia não eram principalmente metafísicos. Non adeo incumbendum esse meditationibus (“Não deve dar tanta atenção obsessiva às meditações metafísicas”), disse Descartes ao jovem estudante Frans Burman (Œuvres de Descartes vol. V, p. 165; The Correspondence, p. 346); deu conselhos semelhantes a essa penetrante metafísica amadora que foi a Princesa Elizabeth da Boêmia (Œuvres de Descartes vol. III, pp. 692 s.; The Correspondence, pp. 227 s.). Descartes ocupou a maior parte do tempo, quando jovem, com questões matemáticas e científicas, incluindo trabalhos circunstanciados em áreas específicas, como geografia e óptica (assuntos sobre os quais publicou ensaios em 1637), bem como teorização ambiciosa sobre cosmologia e a natureza da matéria (desenvolvida no seu tratado inédito Le Monde (1633)). Mesmo quando chegou a publicar o Discurso do Método (1637), dedicou somente uma curta seção (Parte IV) à metafísica; o restante da obra trata de sua educação e desenvolvimento intelectual inicial, interesses científicos atuais e planos para futuras pesquisas. Em geral, há uma quantidade considerável de indícios que apóiam a tese de Charles Adam de que a metafísica teve um interesse meramente secundário para o Descartes histórico, e que ele

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