A mercadoria
Marx define a mercadoria na primeira secção, do Tomo I, do Livro Primeiro de O Capital (1867):
1. «A mercadoria é, antes de mais, um objecto exterior, uma coisa, que, por meio das suas propriedades, satisfaz necessidades humanas de qualquer espécie. A natureza dessas necessidades, quer surjam, p. ex., do estômago ou da fantasia, em nada modifica a questão.»
Nesta parte da definição admite-se que as necessidades humanas tanto podem resultar de processos básicos “automáticos” (por ex. necessidade de alimentação) como de mecanismos mentais complexos.
A utilização da palavra fantasia em contraponto ao estômago, mesmo que não tenha sido intencional, pode indiciar que Marx desvalorizava as necessidades “intelectuais” comparativamente com as necessidades “físicas”.
2. «A utilidade de uma coisa fá-la um valor de uso... Condicionada pelas propriedades do corpo da mercadoria, ela (a utilidade) não existe sem ele... Este seu carácter não depende do facto de a apropriação das suas propriedades de uso custar ao homem muito ou pouco trabalho»
Portanto a utilidade é carácter da coisa pelas propriedades do seu corpo e independente da quantidade de trabalho humano necessária para a obter. A utilidade ou existe ou não existe (nesse caso a coisa é inútil) e não é aflorada sequer a hipótese de uma coisa ser mais ou menos útil. Também não é posta a hipótese de uma coisa ser útil para uns indivíduos e não para outros.
3. «O valor de troca aparece, antes de mais, como a relação quantitativa, a proporção na qual os valores de uso de uma espécie se trocam por valores de uso de outra espécie, uma relação que muda constantemente com o tempo e o lugar.»
Esta caracterização do valor de troca situa-se claramente num contexto social em que a generalidade dos trabalhadores produz bens “trocáveis” (mesmo que por intermédio da moeda) e precisa de saber que quantidade deve entregar para obter um outro bem pretendido. Na nossa época a generalidade dos trabalhadores,