A historia da vida privada no brasil
STUART SCHWARTZ a ''privatização'' não é novidade na história do Brasil. Na verdade, a privatização dos poderes políticos e econômicos foi apontada por vários observadores como a causa dos problemas brasileiros ao longo de quase 500 anos. A curiosa e quase sempre tensa relação entre vida privada e vida pública preocupou, por muito tempo, os historiadores no Brasil.
Os brasileiros têm uma longa experiência de vários governos tentando, sem sucesso, ser absolutistas ou autoritários, ao limitar e restringir a participação de seus súditos e cidadãos na vida pública, mas a experiência estende-se também a uma sociedade na qual poder e autoridade foram frequentemente uma extensão da vontade privada e do interesse das famílias de elite. Esse conflito foi especialmente verdadeiro nos tempos coloniais e os historiadores brasileiros, em vários e diferentes momentos, viam nas deficiências desta sociedade uma explicação para o rotineiro mal-estar da mesma. Capistrano de Abreu, o grande historiador do final do século, encerra seus ''Capítulos de História Colonial'' com uma triste conclusão: ''Entre o Estado e a família não se interpunham coordenadores de energia, formadores de tradição, e não havia progressos definitivos; (...) a vida social não existia, porque não havia sociedade''.
Uma tal avaliação já estava ultrapassada quando Capistrano escreveu essas palavras. Ela fora feita no ocaso da vida colonial. Em sua introdução para o primeiro volume do que promete ser um basilar trabalho de recriação histórica e um resumo da mais recente pesquisa de ponta, Fernando Novais, com seu habitual conhecimento das fontes coloniais, cita Frei Vicente do Salvador, primeiro historiador do Brasil que dizia: ''Nesta terra andam as coisas trocadas, porque toda ela não é república, sendo-a cada casa''.
''História da Vida Privada'' inspirou-se, como bem diz Novais, na ''História da Vida Privada no Mundo Ocidental'', organizada na França por Philippe Ariès e Georges