A função social da escola
O aparecimento da escola ocorre no momento em que surge a propriedade privada dos meios de produção e a sociedade de classes. A classe que domina materialmente é também a que domina com suas ideias, com a sua moral e educação. Mesmo sendo verdade que a escola serve aos interesses da dominação, entendemos que essa função não termina ou se esgota aí. Enquanto educadores acreditamos ser possível atuar dentro da escola, colocando-a também a serviço dos dominados. Isto não nos remete à crença de uma educação-libertadora no seio da sociedade capitalista, pois seria acreditar num messianismo pedagógico levado ao extremo. Partindo do princípio de que se constituindo o conhecimento uma produção social apropriado reinterpretado pela classe dominante – a burguesia – será de interesse de a classe trabalhadora apropriar-se também desse conhecimento, colocando-o a serviço de seus interesses. Numa sociedade em que só uma classe detém o saber, a função possível da escola consiste na democratização do saber sistematizado. O saber sistematizado não se confunde com o chamado saber popular. O saber sistematizado é o saber organizado que a humanidade acumulou ao longo da história. É aquele que se aprende na escola, não podendo, pois, ser adquirido, espontaneamente, como se obtém o saber popular. As crianças pobres sabem e fazem muitas coisas através das quais garantem a sobrevivência, mas, por si sós, não possuem condições de se apropriarem do saber sistematizado que só na escola podem adquirir. Os filhos das classes populares vão para a escola para se apossarem desse saber que é valorizado socialmente e que intuem ser importante aprender. A fala a seguir nos dá o exemplo: “Eu sei lavar roupa e fazer comida, porque a minha mãe me ensinou. Mas eu não sei ler, porque a minha mãe não sabe ler para me ensinar. Eu quero ir para escola para aprender a ler. (Cleidinha, 8 anos). O povo sempre revelou uma crença mística