A educação em áfrica
A educação na África selvagem
Quando ainda não tinham chegado às aldeias as letras do jornal e do livro, os sons da rádio e as imagens da televisão, era a família a grande fonte dos saberes, que se transmitiam e inculcavam entre as gerações por meio da palavra e do exemplo dos mais-velhos. Durante séculos e até há pouco, esses saberes deram conteúdo a uma unidade orgânica que não sentiu necessidade de fazer o percurso ontológico, moral e técnico que, no dizer de Spengler, leva os povos da cultura à civilização.
Aos idosos era confiada a autoridade de religar ao presente o passado histórico e a tradição, que formatavam a identidade da família e do grupo social a que ela pertencia, assegurando um continuum sem desvios nem oscilações, como se o conhecido e o praticado fossem toda e suficiente resposta às necessidades físicas e anímicas do quotidiano. No povoado e no grupo estava a representação cabal do Universo percepcionado, por aquilo que dos seus mistérios se manifestava nas exigências, sempre as mesmas, da praxis que exprimia as "leis" da continuidade: a conservação da espécie e a acção sobre a matéria.
Inscritas essas "leis" no quadro da Natureza, em que tudo o que tinha vida ou movimento se manifestava dentro da mesma ordem, fossem os bichos e as árvores da floresta, as plantas dos campos e as gentes dos povoados, os humanos só escapavam à linearidade do seu destino ou condição quando o normal era fendido pelo surgimento do imponderável. Então o círculo dilatava-se para dar lugar à metafísica: os espíritos dos mortos e a divindade, preenchendo os vazios de um conhecimento com dúvidas, medos e mistérios - os primeiros tutelando, do além, o desempenho dos vivos que os continuavam, a divindade (distante e informe) como Criador Supremo do que era visível e invisível, conhecido ou suposto.
No sistema endogénico das práticas e das crenças constituíam-se os arquétipos que formatavam a unidade orgânica da família e a