A bolsa e a vida
1. Entre o dinheiro e o inferno – a usura e o usurário A Europa Ocidental, no auge da Idade Média – séculos XII e ao XIX – foi palco de uma mistura explosiva entre a economia e a religião, entre o dinheiro e a salvação. Era a usura que, segundo o dicionário Aurélio trata-se do juro de capital ou de um contrato de empréstimo em que o devedor se obriga ao pagamento de juros ou também, trás a idéia do lucro exagerado, da mesquinhez. É nesta sociedade cristã que figura o mesquinho e avarento sugador de dinheiro, encarnado no judeu – detestado e ao mesmo tempo necessário. A usura torna-se um dos grandes problemas do século XIII, pois o desenvolvimento da economia monetária ameaça os velhos valores cristãos. Era preciso então lutar a fim de se legitimar um lucro lícito e diferenciá-lo da usura ilícita. Como então uma religião que opõe Deus e o dinheiro justificar a riqueza? Para responder a esta pergunta é preciso buscar nos documentos e textos não oficiais. O eclesiástico e o laico se interessam pela usura, porém a prática religiosa, pelos usurários. Dois tipos de documentos são necessários para se encontrar pistas – são as sumas ou manuais de confessores e os penitenciais; e também os exempla. Os primeiros, partindo de uma mudança nas escolas teológicas, a confissão torna-se, além de obrigatória (IV Concílio de Latrão - 1215), individual e privada. É uma busca em detectar a gravidade do pecado pela intenção do pecador e assim, pelo exame de consciência e pela busca do arrependimento sentenciar uma penitência. E o usurário nesta nova justiça penitencial? Diante desta nova situação muitos confessores hesitantes quanto às penitencias a serem demandadas necessitavam de guias. Assim, teólogos e canonistas escrevem sumas e manuais. Já o usurário aparece como protagonista no segundo tipo de documento, os exempla. Trata-se de uma pequena história inserida em um sermão ou discurso com fins de instrução e ensinamento de uma lição. Deve-se