Bolsa e a vida
A principal problemática gira em torno da condenação ferrenha do cristianismo a pratica da usura. O autor mostra uma preocupação em distinguir a imagem do usurário da imagem do judeu. Em suas palavras, a eles eram proibidas as atividades que hoje chamaríamos de “primárias” ou “secundárias”, logo o que restavam a eles era fazer com que o dinheiro, que era infecundo para os cristãos, girasse. A usura foi considerada pecado na Idade Média, por motivo principalmente de dois fatores: era considerado roubo, de acordo com a Bíblia, e outro fator, mais importante, é o fato de o usurário ser considerado um “ladrão de tempo”. Segundo os católicos, o usurário era a pior espécie de ser humano. Enquanto ladrões roubavam bens e objetos, o usurário roubava Deus. Ora, se o usurário empresta o dinheiro e recebe o lucro em cima do tempo, sendo Deus o único dono e senhor do tempo, logo o usurário está roubando a Deus. Se um homem roubasse outro homem poderia ser punido pelas leis civis e até mesmo perdoado pela igreja através da confissão. Mas o que fazer com aquele que conscientemente e apesar de todos os avisos roubasse a Deus? Ele vendia aquilo que não produzia. O ócio e o enriquecimento eram incompatíveis.
Jacques Le Golff cita uma série de profissões que na era medieval eram mal vistas e condenadas pela igreja. Entre elas o mercador “usurário”, descrito como a pior forma de mercador, e sua relação com a morte. Havia naquela época, alguns valores morais que podem entrever como os principais motivos de tais condenações e afastamentos de algumas profissões e seus profissionais. Mostra também o quanto essa aversão contribuiu para agravar a imagem negativa que o ocidente medieval cristão possuía dos judeus.
Um dos meios desenvolvidos para a comunicação das ideias divinas, ditadas pela igreja, foi o exemplum. Através dessas histórias, os ouvintes eram informados sobre o destino final do usurário. Estava lançada a grande questão da época quanto ao enriquecimento