A Bolsa e a Vida
Economia e Religião na Idade Média
Jacques Le Goff
Entre o Dinheiro e o Inferno: A Usura e o Usurário
Lucro e Usura, pecados
A usura constituiu um problema que perdurou por sete séculos, entre XII e XIX. Veementemente condenada pela Igreja, o estereótipo que se constituiu do usurário é o de judeu ávido pelo lucro. Contudo, Wolff em sua obra Outono da Idade Média ou Primavera dos Tempos Modernos? afirma que a maior parte dos praticantes da usura foram cristãos italianos que driblaram as perseguições religiosas. O Novo Testamento carrega algumas repreensões aos que buscam o lucro, Mateus e Lucas falam com uma só voz que “ninguém pode servir á dois senhores. Não podeis servir á Deus e ao dinheiro”. Tal era o pensamento dominante na Idade Média, o lucro era condenável, bem como a usura e o usurário que faziam parte de um sistema de lucros pecaminosos e contrários á moral cristã.
A condição dos usurários
O Quarto Concílio de Latrão marca uma data importante para os cristãos (portanto, para grande parte do Ocidente Medieval). Tal Concílio torna obrigatória a confissão de todos os cristãos pelo menos uma vez ao ano, durante a Páscoa. A confissão passava a ser feita diretamente entre o confessor e o penitente. O penitente fazia uma análise de conduta e se empenhava em confessar tudo o que não achava estar de acordo com a moral cristã, todos os seus desvios de conduta. O confessor era orientado á purificar o possível pecador por meio das penitências. Dois tipos de pecados faziam parte do universo religioso: os mais leves e os mais graves. Aqueles que morressem tendo praticado pecados graves, ou seja, sem terem se redimido em vida tinham como destino direto o Inferno. Pelo contrário, os que morressem carregando pecados leves passariam por um caminho intermediário denominado purgatório, com a função de purificação e conseqüente encaminhamento á vida eterna; o Paraíso. O usurário representou um tipo novo de pecador, com o qual antes