Transfusão de sangue em Testemunhas de Jeová
José Roberto Goldim
Alegar um impedimento religioso para a realização de um ato médico é bastante mais frequente do que se imagina. Muitas vezes os pacientes ou seus familiares ficam constrangidos de utilizarem um referencial religioso para orientar a sua tomada de decisão. Algumas denominações religiosas, como, por exemplo, Ciência Cristã e Testemunhas de Jeová, são conhecidas por seus seguidores imporem restrições desta ordem a algumas formas de tratamento, ou seja, serem contra determinados procedimentos como a doação de sangue, mesmo que a pessoa esteja em risco de vida.
A questão que envolve a indicação médica de transfusão de sangue em pacientes testemunhas de Jeová é das mais polêmicas e conhecidas. Esta situação envolve um confronto entre um benefício médico, com uma crença e exercício da autonomia do paciente.
A base religiosa que os testemunhas de Jeová alegam para não permitirem ser transfundidos é obtida em alguns textos contidos na Bíblia.
No livro do Gênesis (9:3-4) está escrito:
"Todo animal movente que está vivo pode servir-vos de alimento. Como no caso da vegetação verde, deveras vos dou tudo. Somente a carne com sua alma - seu sangue - não deveis comer."
No Levítico (17:10) existe outra restrição semelhante:
"Quanto qualquer homem da casa de Israel ou algum residente forasteiro que reside no vosso meio, que comer qualquer espécie de sangue, eu certamente porei minha face contra a alma que comer o sangue, e deveras o deceparei dentre seu povo." Já existe uma grande bibliografia a respeito desta questão. A maioria divide-a em duas abordagens básicas: o paciente capaz (saudável) de decidir sobre sua saude e o paciente incapaz. Além daquele paciente que corre risco de morte e aquele que não corre risco de morte. O paciente reconhecidamente capaz deve poder exercer a sua autonomia plenamente. Este posicionamento foi utilizado pelo Prof. Diego Gracia, da Universidade Complutense de