Tradição oral
NTRODUÇÃO
E ste trabalho busca o entendimento da questão da formação da identidade racial entre apopulação afro-brasileira, abordando, por um lado, a questão do papel memória do cativeiropresente em depoimentos de pessoas oriundas do mundo rural do Sudeste/Sul e herdeiros damemória dos últimos escravos brasileiros; e, por outro lado, a afirmação dessa identidade no seio doMovimento Negro brasileiro contemporâneo, mais especificamente através da análise da formaçãode organizações negras no Rio de Janeiro dos anos 1970 e do surgimento de uma intelectualidadeligada a esse Movimento.Meu interesse sobre a História do negro no Brasil não nasceu no curso de bacharelado emHistória da UFF, hoje entendo que ele nasceu muito antes, das muitas histórias que ouvi da minhaavó paterna, filha de uma ex-escrava e um fazendeiro da região de Cantagalo/RJ, onde o passadoescravista ainda se materializa nos terreiros de pedra das antigas senzalas ainda existentes na região.Mas meu interesse na temática certamente manifestou-se quando me tornei bolsista de iniciaçãocientífica da professora Hebe Mattos no projeto Memória do Cativeiro, através do qual eu tiveacesso a muitas outras histórias sobre a escravidão e muitas perguntas surgiram a partir daí. O contato com os relatos do acervo Memória do Cativeiro foi fundamental para eu aprender afazer entrevistas e, mais que isso, a perceber como a memória da escravidão era fundamental para aconstrução de identidades entre os descendentes de escravos do mundo rural. A monografia do fimdo curso de História foi fruto disso e a presente dissertação é, na verdade, uma ampliação dessaabordagem na tentativa de entender a questão da identidade racial negra no Brasil.Na primeira parte do trabalho eu utilizei fontes orais de quatro conjuntos documentais,tentando sempre articular as relações existentes entre a memória, a ancestralidade e a identidade Oterceiro capítulo dessa parte é uma análise da entrevista que realizei para o acervo Memória