Trabalho da dialética,
Para início de conversa, todos nós somos dialéticos, pois a consciência individual é formada a partir de um processo dialético, a saber, pela aquisição e pela confrontação de valores culturais pré-estabelecidos. Somente através da existência de um outro pode ocorrer a necessária auto-afirmação e a consequente diferenciação que nos caracteriza enquanto indivíduos em contínua formação. No entanto, num sentido mais restrito, dialéticos são aqueles que compreendem, aceitam e sabem usar a seu favor as leis da dialética. Os dialéticos usam essas leis tanto como método para conquistar a verdade, tanto como instrumentos para mudar o mundo e a si mesmos. Poderíamos definir a Dialética como uma espécie de sistema metafísico dualista que explica a realidade a partir da luta de contrários. Porém ela é mais do que isso, ela é a própria realidade no seu desdobramento espácio-temporal. Em suma, a Dialética é uma fenomenologia.
Considerado uns dos iniciadores da dialética, Heráclito de Éfeso (540 a.C.- 470 a.C.) dizia, em um dos fragmentos que restaram de sua obra, que "tudo se faz por contraste; da luta dos contrários nasce a mais bela harmonia". Expressava-se de maneira contraditória, com o intuito de descrever o movimento dialético do mundo, no qual tudo é mutável e fluídico. Já Platão (428 a.C.- 347 a.C.), discípulo de Sócrates (469 a.C.- 399 a.C.), tentou unir a concepção heraclitiana de ser como móvel e múltiplo, com a concepção de Parmenides (530 a.C- 460 a.C), que via o ser como imóvel e unificado. Estabelece-se em Platão, uma síntese dialética das idéias dos filósofos anteriores, ao afirmar que o ser é ao mesmo tempo móvel e imóvel e também que este é múltiplo e unificado. Em suma, uma concepção de ser, que englobou a sua contrariedade.
Plotino (205-270 d.C.), uns dos principais neoplatônicos, vê a dialética como uma maneira de purificar a alma e chegar ao conhecimento das idéias eternas. Nos tempos modernos, Hegel (1770- 1831) fez de toda a