Terceira Meditação
Neste texto, procuro fazer uma curta descrição das explicações de Descartes que conduzem à prova da existência de Deus, apresentadas na terceira meditação.
Descartes, nas duas primeiras meditações, havia procedido à sua famosa “dúvida metódica”, já consagrada em Discurso do método: primeiro, supõe-se que os sentidos podem ser enganosos, para então pôr-se em dúvida a existência de todas as coisas cuja percepção adquire-se mediante os sentidos; disso se segue que a existência de todo o mundo externo pode se mostrar problemática diante da mais simples especulação filosófica. Depois, conclui-se que ao menos o sujeito que duvida precisa existir, pois a condição de seu pensar, é o seu próprio existir.
A partir disso, Descartes inicia sua “terceira meditação”, cujo objetivo é a exposição do argumento sobre a existência de Deus. Parece-me que um ponto chave na argumentação de Descartes é a noção de causa eficiente. Escreve Descartes:
É coisa evidenciada pela razão que deve existir ao menos tanta realidade na causa eficiente e total quanto em seu efeito: porque de onde é que o efeito pode tirar sua realidade e não ser de sua causa? E como poderia esta causa lhe comunicar se não a possuísse em si própria? (DESCARTES, 1999, p. 276)
Partindo disso, de acordo com a qual um efeito deve ter sua inteira realidade já potencialmente contida em sua causa, Descartes procede à análise de ideias e representações que surgem em seu espírito. Dentre todas as representações que vêm ao espírito, tais como corpos animados e inanimados, luz, cores, calor, frio, etc., Descartes conclui que não há contradição em pensar que ele próprio, a substância pensante, seja o autor de cada uma delas. Quanto a isso, pode-se dizer que as observações de Descartes dividem nossas representações em duas categorias. Primeiro, em relação às qualidades apreendidas apenas pelo tato, tais