TERCEIRA MEDITAÇÃO-DESCARTE
2. Agora considerarei mais exatamente se não se encontram talvez em mim outros conhecimentos que eu não tenha ainda percebido. Estou certo de que sou uma coisa que pensa; mas então não sei também o que é requerido para me tornar certo de alguma coisa? Nesse primeiro conhecimento não se encontra nada além de uma clara e distinta percepção daquilo que conheço; a qual, na verdade, não seria suficiente para me assegurar de que é verdadeira, se algum dia pudesse ocorrer que uma coisa que eu concebesse assim clara e distintamente se mostrasse falsa. E, portanto, parece-me que já posso estabelecer como regra geral que todas as coisas que concebemos muito clara e muito distintamente são todas verdadeiras. 5. E, por certo, já que não tenho nenhuma razão de crer que haja algum Deus que seja enganador, e mesmo que eu não tenha considerado ainda as que provam que há um Deus, a razão de duvidar que depende somente dessa opinião é bem frágil e, por assim dizer, metafísica. Agora, para poder suprimi-la inteiramente, devo examinar se há um Deus, tão logo se apresente a ocasião; e, se achar que há um, devo também examinar se ele pode ser enganador: pois, sem o conhecimento dessas duas verdades, não vejo como possa jamais estar certo de alguma coisa.19 E, a fim de que eu possa ter a ocasião de examinar isso sem interromper a ordem de meditar que me propus, que é de passar por graus das noções que encontrar primeiro em meu espírito para aquelas que nele poderei encontrar depois, é preciso que aqui eu divida todos os meus pensamentos em certos gêneros e considere em quais desses gêneros há propriamente verdade ou erro.
6. Entre meus pensamentos, alguns são como as imagens das coisas, e é apenas a estes que convém propriamente o nome de idéia: como quando me represento um homem, uma quimera, o céu, um anjo ou mesmo
Deus.20 Outros, além disso, têm algumas outras formas: como, quando quero, temo, afirmo ou