Um médico jovem, que não terminou sua formação, é responsável, no entanto, por um serviço de reanimação: o diretor do hospital se nega a contratar mais profissionais e a remuneração deste médico é muito inferior à de um profissional mais experimentado. O jovem médico, sério e trabalhador, realiza corretamente as tarefas. Tudo anda nos trilhos e vai ganhando progressivamente a confiança da equipe médica, dos pacientes e seus familiares. Mas ele está muito preocupado porque há muitas baixas no serviço. Alguns de seus pacientes morrem apesar dos prognósticos favoráveis, em especial quando ele prescreve assistência com respirador artificial em doentes entubados: muitos se asfixiam e ele não consegue entender por que. Começa a pensar que cometeu erros, mas não consegue descobri-los. Sente-se cada vez mais perturbado, perde a confiança em si mesmo e, finalmente, consulta um psiquiatra para que o ajude a lutar contra uma depressão ansiosa. Cada vez mais fechado e irritado, se isola, fica com raiva e pouco a pouco vai perdendo a confiança da sua equipe. Apenas seis meses depois – mesmo com a sua situação psíquica francamente deteriorada – tem uma ideia: coloca a máscara de oxigênio em si mesmo e se afoga ao inalar algo que, pelo cheiro, identifica de imediato como formol. Uma investigação lhe permite descobrir que a empresa responsável pela manutenção dos equipamentos de reanimação não respeita os procedimentos, para ganhar tempo e suprir a falta de pessoal.O sujeito pode transferir esse reconhecimento do trabalho para o registro da construção de sua identidade. E o trabalho se inscreve assim na dinâmica da autorrealização. A identidade constitui a armadura da saúde mental. Não há crise psicopatológica que não tenha em seu núcleo uma crise de identidade. E isto confere à relação com o trabalho sua dimensão propriamente dramática. Ao não contar com os benefícios do reconhecimento de seu trabalho nem poder aceder ao sentido da relação que vive com esse trabalho, o sujeito se