SOBRE O SUICÍDIO
KARL MARX
Há quem culpe o suicida e condene o ato como antinatural.
“Antes de tudo, é um absurdo considerar antinatural um comportamento que se consuma com tanta freqüência; o suicídio não é, de modo algum, antinatural, pois diariamente somos suas testemunhas. O que é contra a natureza não acontece. Ao contrário, está na natureza da nossa sociedade gerar muitos suicídios...”(p.25)
É necessário tentar compreender. O indivíduo vive em sociedade, é um ser social. Ainda que levemos em conta os fatores psicológicos individuais, as motivações para o suicídio não estão apenas no indivíduo.O suicídio revela a fragilidade das relações humanas, numa sociedade cada vez mais individualista. De certa maneira, também somos responsáveis perante o suicida. Afinal, ele é um ser social e seus motivos podem não ser meramente individuais. Precisamos pensar em que medida a sociedade contribui para isto.
Quando a vida se torna insuportável ou sem sentido e perdem-se as esperanças, o suicídio se apresenta como o último recurso. As causas do suicídio são diversas. Podem ser, inclusive, econômicas. O caso de um homem que se viu desempregado e não conseguia novo emprego.Diante da situação, ele
“Caiu num profundo desânimo e se matou. Em seu bolso, foram encontradas uma carta e informações sobre suas relações pessoais. Sua mulher era uma pobre costureira; suas duas filhas, de dezesseis e dezoito anos, trabalhavam com ela. Tarnau, nosso suicida, dizia nos papéis que deixou “que, não podendo mais ser útil a sua família, e sendo forçado a viver à custa da mulher e de seus filhos (sic), achava que era sua obrigação privar-se da vida para aliviá-los dessa sobrecarga” ( p.49).
Nestas circunstâncias, a morte parece lançar uma espécie de culpa, por sermos incapazes de evitá-la.
“Não é com insultos aos mortos que se enfrenta uma questão tão controversa” (p.25).