Responsabilidade Civil do Estado
Leia o texto para responder à questão 1.
Nossas vidas
Eventualmente, uma palavra, um cumprimento na rua, torna-se inspiração para uma crônica. Acorda o cronista. O homem que ele é nem sempre anda à espreita de personagens, frases, situações. Distrai-se, espairece, passeia. E de repente... Quantas vezes segue por uma calçada, cidadão, desavisado, e ao dobrar uma esquina já é o cronista, atento e dissimulado. Um dia desses, bastou perguntar:
Como vai, Severino?
E ouvir:
Levando a vida, doutor. Para o cronista bisbilhoteiro surgir dentro dele. Severino, com aquela expressão, que não era criação sua, dizia tudo: não ia nem bem nem mal, mas mesmo assim fazia a sua obrigação que era, no fim das contas, viver. Um longínquo tom de conformação, de fatalismo, de objeto do destino enriquecia aquela frase tão simples, e estava nisso a beleza das línguas. Podia-se falar tanta coisa com tão pouco, e sem gastar nada de seu próprio bolso, ou da cabeça, pois idéias não andam em bolsos. Há palavras assim, poderosas, às quais basta juntar outras, fracas que sejam, para multiplicá-las. “Vida” é uma, e pode contar tudo o que acontece em uma existência. Nesse banco de idéias aonde foi buscá-la Severino, lá sacamos todos, eruditos e ignorantes, escritores e escreventes. Um dia despertamos para a vida, para uns, a moleza não se acaba, passa de pai para filho. São os que levam vida de príncipe. Quem não é nobre nem gênio, e não quer uma vida de cão, que trate de arranjar um meio de vida. Fazer a vida. Se é homem, isso é bom. Se é uma dama ... cai na vida. Vira mulher da vida. Leva má vida. Vida pública é discurso de homem, vem de antigos preconceitos, daquela idéia de que lugar de mulher é em casa. Porque mulheres de vida pública são “aquelas”. Melhor mesmo é a vida a dois. Nem o fim da vida é igual. Para uns, tudo acaba aí; outros contam com a vida eterna. E assim vamos levando, Severino... (Ivan Ângelo.