Resenha cartas a um jovem terapeuta

Logo nas primeiras páginas de “Cartas a um Jovem Terapeuta” podemos notar que se trata de uma literatura psicanalítica singular: com uma linguagem clara e simples – nem por isso vulgar como acontece a alguns autores que se arriscam a escrever textos para um público “leigo” – Contardo Calligaris faz um verdadeiro passeio por temas delicados referentes à situação analítica. O livro é escrito através de respostas às cartas de um jovem casal de profissionais, fórmula esta que, segundo jornalistas e críticos, prende facilmente a atenção do leitor. Calligaris usa o seu conhecimento em psicanálise mesclado com a sua experiência como psicanalista, tornando assim os conceitos abordados mais facilmente vislumbráveis aos profissionais iniciantes e aos curiosos. Segundo o autor existem alguns traços de personalidade pré-existentes no sujeito que “definem” o psicoterapeuta, e desenvolve-los durante a formação é praticamente impossível. Ou seja, não basta somente uma boa formação acadêmica, é necessário ter uma sensibilidade, uma curiosidade, um carinho pelo outro – características que não se aprendem através de teorias, nos bancos da universidade. Diz, ainda, que o sofrimento psíquico e a “anormalidade” são necessários ao psicoterapeuta para que este tenha contato com o papel do analisado, não somente com o do analisando. Com relação a isto, Calligaris versa sobre a necessidade indiscutível de o profissional em formação se submeter à análise, apontamento de grande valia devido ao crescente número de acadêmicos que não consegue entender a dimensão dessa prática. Afirma que uma análise é capaz de fornecer ao sujeito um conhecimento de si mesmo, suas fantasias, desejos, etc., conhecimento imprescindível para o bom funcionamento de sua relação com o paciente, pois o torna capaz de delimitar os seus sentimentos, as suas características e as do paciente. Somente através desse processo de auto-conhecimento poderá entender a complexidade do ser humano e se tornar sensível a