Raizes Historicas
Noëlle Marie Paule Lechat
Introdução
A antropologia ensina que a história das origens é sempre mitológica. O que vou apresentar aqui hoje vai ser mais uma versão, bastante limitada, do mito de origem da economia solidária e espero que vocês vão trazer outros dados, uma outra maneira de ver esta questão, todos eles, sem dúvida importantes e enriquecedores. Para falar das origens, gosto de usar a metáfora das buscas da nascente do rio Nilo que, no século XIX, envolveu exploradores e geógrafos numa famosa polêmica, retratada de maneira romanesca pelo filme Montanhas da Lua de Bob Rafelson (1990). De fato o rio Nilo não possui uma nascente, mas várias, e algumas surgem nos lagos o que torna ainda mais difícil a sua localização. Assim também são os fenômenos sociais; além do mais, uma visão processual e dialética da história, não permite falar do surgimento de uma nova realidade com início datado e registrado, pois os processos são demorados e o que nós chamamos de novo recobre, em geral, fenômenos antigos reinterpretados, modificados pelas novas condições sócio-históricas e que, em determinado momento, começam a tornar-se significativos para um grande número de pessoas, sendo objeto de uma ação consciente articulada e atraindo financiamentos, pesquisa e divulgação através da mídia. Tudo isto concorrendo para o reconhecimento público, político e, finalmente, às vezes, legal, da problemática em questão.
Segundo Pierre Bourdieu, para não sermos objeto dos problemas que escolhemos como objeto de estudo, “é preciso fazer a história social da emergência desses problemas, da sua constituição progressiva, quer dizer, do trabalho coletivo – freqüentemente realizado na concorrência e na luta – o qual foi necessário para dar a conhecer e fazer reconhecer estes problemas como problemas legítimos, confessáveis, publicáveis, públicos, oficiais” (Bourdieu, 2000:37). Este autor nos alerta também,