Povos ágrafos
Museu de História
Natural da
Universidade Federal de Minas Gerais.
DO HOMEM NA AMÉRICA
SURGIMENTO
O povoamento da
América
visto do Brasil: uma perspectiva crítica A N D R É
P R O U S
INTRODUÇÃO
D
esde o século XIX, existe um debate entre os préhistoriadores que acreditam numa entrada muito remota do homem nas
Américas (interpretando neste sentido vestígios por vezes pouco convincentes) e os que permanecem céticos e criticam de maneira sistemática os indícios apresentados como prova. As raízes desse debate freqüentemente passional remontam ao paleontólogo argentino Ameghino. Querendo demonstrar que o homem tinha surgido nas Américas, superestimou sistematicamente a idade das formações geológicas que estudava e interpretou os fósseis de primatas de maneira tendenciosa. Nos primeiros anos do século
XX, o norte-americano Hrdlicka demonstrou que todas as pretensas provas de grande antigüidade do homem nas Américas eram falhas e estimou a entrada dos indígenas em cerca de 6.000 anos; desde então, firmou-se nos EUA uma tradição hipercrítica em relação a qualquer achado que confirmasse uma longa presença humana no chamado Novo Mundo. Em meados do século, no entanto, descobriram-se nos EUA locais de matança de grandes animais desaparecidos, como bisontes fósseis e mamutes, sendo encontrados nos esqueletos instrumentos inquestionáveis
(pontas de pedra lascada ditas “de Clóvis”, com uma técnica original e sofisticada de acanelura destinada a facilitar o encabamento). As análises radiocarbônicas permitiram datar esta “cultura Clóvis” entre 10.500 e 11.000 anos atrás. Aceitou-se então 11.500 anos como o novo limite para a presença do homem no continente. Desde então, vários arqueólogos encontraram indícios de uma possível presença humana anterior em dezenas de sítios, mas nenhum conseguiu um reconhecimento unânime por parte da comunidade científica.
Por isso, aparecem freqüentemente na imprensa notícias