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A Perda da Realidade na Neurose e na Psicose (1924)
Volume XIX
Sigmund Freud (1856 - 1939)
Recentemente indiquei como uma das características que diferenciam uma neurose de uma psicose o fato de em uma neurose o ego, em sua dependência da realidade, suprimir um fragmento do id (da vida instintual), ao passo que, em uma psicose esse mesmo ego, a serviço do id, se afasta de um fragmento da realidade. Assim, para uma neurose o fator decisivo seria a predominância da influência da realidade, enquanto para uma psicose esse fator seria a predominância do id. Na psicose a perda de realidade estaria necessariamente presente, ao passo que na neurose, segundo pareceria, essa perda seria evitada.
Isso, porém, não concorda em absoluto com a observação que todos nós podemos fazer, de que toda neurose perturba de algum modo a relação do paciente com a realidade servindo-lhe de um meio de se afastar da realidade, e que, em suas formas graves, significa concretamente uma fuga da vida real. Essa contradição parece séria, porém é facilmente resolvida, e a explicação a seu respeito na verdade nos auxiliará a compreender as neuroses.
A contradição, pois, existe apenas enquanto mantemos os olhos fixados na situação no começo da neurose, quando o ego, a serviço da realidade, se dispõe à repressão de um impulso instintual. Porém isso não é ainda a própria neurose. Ela consiste antes nos processos que fornecem uma compensação à parte do id danificada
— isto é, na reação contra a repressão e no fracasso da repressão. O afrouxamento da relação com a realidade é uma conseqüência desse segundo passo na formação de uma neurose, e não deveria surpreender-nos que um exame pormenorizado demonstre que a perda da realidade afeta exatamente aquele fragmento de realidade, cujas exigências resultaram na repressão instintual ocorrida.
Nada de novo existe em nossa caracterização da neurose como o resultado de uma repressão fracassada. Vimos dizendo isso