Paixões obscuras
PAIXÕES OBSCURAS: CIÚME, INVEJA E VINGANÇA1
Leila Tannous Guimarães2 Introdução: ideias relevantes para a construção do trabalho Para a psicanálise, as paixões, por mais amorosas e odiosas que possam habitar o mundo interno de um indivíduo, originam-se no id – das pulsões de vida e de morte – e se expressam desde as primeiras relações com os seus objetos internos e externos. É na dinâmica das relações de objetos que o ego se organiza. São parte do contexto das relações iniciais aqueles objetos que exercem as funções básicas para a sobrevivência e para o desenvolvimento da vida mental da criança, isto é, figura materna e paterna, com todas as qualidades positivas e negativas que lhes são atribuídas meio à força pulsional que constitui a natureza da criança. Daí se depreende a formação do superego. Nesse sentido, ressalto o narcisismo primário, no qual a criança é ainda objeto da pulsão; a evolução do funcionamento e da estrutura do aparelho psíquico mediante as relações com os seus objetos; a idéia da família inconsciente ou fantasmática e os sentimentos que interatuam nas relações internas de objetos que, por mais que contribuam para a construção da vida psíquica, em alguns momentos eles nos parecem ‘obscuros’. Refiro aos sentimentos que podem nos parecer obscuros pelo fato de que fantasias e necessidades de uma criança recémnascida ficam sob pleno domínio das paixões e a irrupção dessas excitações internas, sem mecanismos psíquicos que deem conta de mediar e controlar a sua intensidade (força pulsional) pode ser sentido como algo muito desprazeroso. Daí se deduz a necessidade interna de contenção das paixões e do papel dos adultos em dar continência às emoções da criança. No vértice clínico, utilizo a experiência com um paciente, jovem adulto, 27 anos, para refletir sobre a importância das relações parentais no funcionamento e estruturação psíquica. À medida que transcorre a análise, verifico que a dinâmica de seu mundo interno, seu modo de ser se relaciona