Os mestres loucos
O documentário produzido por Jean Rouch em 1955, em um primeiro
momento, choca. Choca por entrarmos em contato com uma cultura completamente
diferente do que podemos imaginar. O enredo do filme é sobre um ritual religioso que
acontece anualmente, na Nigéria, chamado Haouka. Para os participantes do culto,
é considerado um movimento social e política contra os colonizadores. Em transe,
retratam de forma simbólica e ideológica, o sistema de colonização que sofreram com
s simulações e encenações exacerbadas. Para os Haoukas, o ritual é uma forma de
aliviarem tudo que sofriam : violência, preconceito, ordens, repressão. Possuídos
pelos “deuses haoukas” ocorrem as imitações da figura do branco colonizador : imitam
o modo como vivem, como andam, como se vestem, como cumprimentam, imitam
os transportes que usam, etc. Ao longo do ritual, personagens espumam pela boca e
sacrificam um animal para servir de alimento.
No documentário, o que ocorre, de fato, é o encontro de duas culturas : a do
cineasta que interpreta e insere uma experiência com a participação de longe, na
encenação dos “loucos” africanos, e a dos personagens do ritual Haouka. A questão
principal que envolve o documentário de Rouch é : através de um olhar etnológico,
o autor observa através de sua câmera e narra a atividade dos personagens, sem
conceber quaisquer entrevistas com os mesmos. Dessa forma, mostra-se, através de
uma lente pessoal, o que somente o autor vê, com imagens e áudio. Até que ponto
isso pode realmente mostrar a realidade do ritual?
O ritual não é apenas uma crença, é uma crítica ao sistema colonialista. É o
jeito que o povo da cidade de Accra encontrou para expressar o contexto