O Cinema Etnográfico de Jean Rouch

1496 palavras 6 páginas
O Real Imaginado – Etnografia, Cinema e Surrealismo em Jean Rouch
Marco Antonio Gonçalves

Filme-Ritual e Etnografia Surrealista: Os Mestres Loucos de Jean Rouch
O filme trata de um ritual de possessão dos hauka, trabalhadores migrantes Songhay do Níger que residem em Accra, Gana. Os hauka são os espíritos dos “mestres coloniais”, representados por personagens dos exércitos francês e britânico.
O filme foi rodado em apenas um dia e meio, em 1953.
Ao propor uma reflexão sobre o colonialismo, gera um debate essencial sobre a alteridade, nós/outros incluindo aí a produção do conhecimento na Antropologia baseada na relação nativo/antropólogo. O modo como este ritual é filmado e montado revela um ‘estilo’ de pensar a etnografia e a Antropologia, peculiar a Jean Rouch.

Início: Ética e Episteme do Filme-Etnografia
Se sabemos que Rouch foi iniciado na Antropologia através do ritual dos hauka, este filme é, a nosso ver, um marco importante na construção de identidade de Rouch tanto enquanto antropólogo como cineasta.
(Questão: O que Rouch fazia naquele lugar? Qual a situação que o levou a filmagem?)
A princípio o filme foi rejeitado por etnólogos, como Marcel Griaule, que o julgaram ‘intolerável’ e pelos africanos que o julgaram racista. Em um episódio racista nos EUA, uma senhora após a sessão de Os Mestres Loucos queria uma cópia do filme e se justificou dizendo que era para provar que os negros eram realmente selvagens. Este evento fez com que Rouch pudesse compreender mais uma vez o não controle sobre a interpretação das imagens que produzia.
Por que os etnólogos manifestaram tamanha indignação com o filme?
Podemos pensar que uma possível resposta é que a concepção de se fazer Antropologia mais ou menos em vigor nos anos 50, se chocava com o conteúdo das imagens e o texto narrado no filme. Confrontava-se com uma representação construída pela Antropologia sobre os rituais e sobre a África, que consistia mais em registrar rituais que estavam desaparecendo.

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