Nancy Fraser - Reconhecimento sem ética
Em seu livro Homo Sacer: o poder soberano e a vida nua, Giorgio Agamben realiza uma reflexão acerca da natureza do poder soberano na sociedade moderna e contemporânea. O autor busca mostrar como o que caracteriza o poder soberano no Ocidente é a politização crescente da "vida nua", da vida natural ou biológica tanto do corpo individual quanto da própria espécie. Para desenvolver essa tese polêmica, Agamben mobiliza um conjunto expressivo de pensadores - como Hannah Arendt, Karl Schmitt, Alain Badiou, Emile Durkheim, Walter Benjamin, entre muitos outros -mas suas idéias centrais desenvolvem-se a partir de uma discussão específica realizada por Michel Foucault. Em seus estudos sobre as práticas de poder na sociedade moderna, Michel Foucault identificou uma mutação decisiva na forma como o poder soberano no Ocidente lida com a vida e com a morte de seus súditos. Se durante muito tempo o poder soberano caracterizou-se, sobretudo como um poder de vida ou de morte, poder que causava a morte ou que deixava viver - já que consistia sobretudo numa instância de confisco, de extorsão de bens ou de trabalho -, no moderno Ocidente ocorrerá uma mutação profunda nos mecanismos de poder, de tal modo que as práticas de confisco serão suplantadas por práticas de incitação, de reforço, de controle, de vigilância, de majoração e organização das forças submetidas. O poder estatal se voltará para gerir a vida em todos os seus aspectos, poder "produtivo", em oposição ao poder "negativo" voltado simplesmente para a possibilidade de causar a mOrte. Emerge assim um poder cujo principal objetivo não é mais matar, mas investir contra a vida, seja dos indivíduos, seja das populações. Inicia-se a era daquilo que Foucault chamará de "bio-poder".
Mas, ao passo que Foucault restringe a noção de biopoder, ao designar especificamente essas novas práticas que emergem no Ocidente a