mundo :Danto
O mundo da arte
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Arthur Danto
Artefilosofia, Ouro Preto, n.1, p.13-25, jul. 2006
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Hamlet: – Você não vê nada lá?
A rainha: – Nada mesmo; mas tudo que é, eu vejo.
(Shakespeare: Hamlet, Ato III, cena IV).
Hamlet e Sócrates, embora de modo – respectivamente – elogioso e depreciativo, falaram de arte como um espelho anteposto à natureza.
Como muitas discordâncias em atitude, essa tem uma base factual. Sócrates vê os espelhos como que refletindo o que já podemos ver. Assim, a arte, na medida em que é como o espelho, fornece duplicações pouco acuradas das aparências das coisas e não presta qualquer benefício cognitivo. Hamlet, mais arguto, reconheceu uma notável característica das superfícies refletoras, a saber, que elas nos mostram o que, de outro modo, não poderíamos perceber – nossa própria face e forma – e, do mesmo modo, a arte, na medida em que ela é como espelho, nos revela a nós mesmos e é, mesmo sob os critérios socráticos, de alguma utilidade cognitiva no final de contas. Como filósofo, entretanto, acho que a discussão de Sócrates é defeituosa por outros motivos, talvez menos profundos do que esse. Se uma imagem espelhada de o é mesmo uma imitação de o, então, se a arte é imitação, imagens espelhadas são arte.
Mas, de fato, objetos espelhados não são mais arte do que a devolução das armas a um louco seja justiça; e a referência aos espelhamentos seria exatamente um tipo astucioso de contra-exemplo que poderíamos esperar que Sócrates trouxesse à tona, utilizando-se deles para refutar a teoria, e não para ilustrá-la. Se essa teoria requer que os classifiquemos como arte, ela, exatamente por isso, mostra sua inadequação: “é uma imitação” não será uma condição suficiente para “é arte”. Mas, talvez porque os artistas estavam empenhados na imitação, nos tempos de Sócrates e depois, a insuficiência da teoria não foi notada até a invenção da fotografia. Uma vez rejeitada como uma condição suficiente, a mímesis foi rapidamente descartada até