Danto
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A percepção após a interpretação na filosofia da arte de Danto*
Eduardo Coutinho Lourenço de Lima**
O interessante e essencial na arte é a habilidade espontânea que o artista tem de nos permitir ver sua maneira de ver o mundo.
Danto, A transfiguração do lugar-comum
O mundo da arte e as propriedades relacionais
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Agradeço a Rodrigo Duarte,
Lincoln Frias e ao parecerista anônimo de Artefilosofia por comentários valiosos sobre versões anteriores deste artigo.
As traduções de “The artworld” são de Rodrigo Duarte. As demais traduções são de minha responsabilidade, exceto quando for indicado o contrário.
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PPG Filosofia UFMG, elourenco@gmail.com 1
Davies, “Weitz’s antiessentialism”, p. 64. Para um sumário das insuficiências encontradas nas principais teorias estéticas e da filosofia da arte do começo do século XX, ver Weitz “The role of theory in aesthetics”, p. 27-30.
2
Weitz, “The role of theory in aesthetics”, p. 29.
3
Ibidem, p. 30-31.
4
Ibidem, p. 33.
Como identificar obras de arte em oposição a objetos que não são obras de arte? Que função propriedades sensíveis desempenham nessa identificação? Obras são individualizadas por conceitos e teorias ou esses tão-somente conformam a apreciação estética? O debate recente entre Arthur C. Danto e Joseph Margolis acerca da percepção de obras de arte reflete de um modo característico o percurso dessas questões na filosofia da arte na tradição analítica, que, em grande parte, se dedicou a definir o que é arte. Ironicamente, a busca pela especificação das condições juntamente necessárias e suficientes para que algo seja uma obra de arte realiza, de certa maneira, o oposto do programa daqueles pioneiros que, na década de 50, introduziram a arte entre as inúmeras áreas de interesse da filosofia analítica. Filósofos como John Passmore, W. B. Gallie, Morris Weitz, Paul Ziff e
William Kennick, ao fazerem frente às teorias vigentes de que então se derivavam as definições, contestaram a