Arthur danto
Marcel DuchaMp e o fiM Do gosto: uma defesa da arte contemporânea*
para Kippy Stroud
Jean Clair, diretor do Museu Picasso em Paris, e em tempos recentes, crítico feroz da art contemporain, foi durante os anos setenta um importante intérprete da obra de Marcel Duchamp. Ele organizou a grande retrospectiva de Duchamp em 1975 – a exposição inaugural no Centre Pompidou – e escreveu o catalogue raisonné da sua obra. Mas surpreendentemente, a despeito desse envolvimento inicial, ele passou a considerar esse artista, em larga medida, responsável pelo que considera “a condição deplorável da arte contemporânea”. Recentemente, reuniu seus escritos sobre Duchamp sob o título Marcel Duchamp et la fin de l’art1 e fica claro no ensaio denunciatório “The Muses Decomposed”2 que ele identifica intimamente la fin del’art com o que aí descreve como a arte fin de siècle do século vinte. Marcada, como observa Jean Clair, pela ascendência de uma “nova categoria estética” composta de “repugnância, abjeção, horror e repulsa/ nojo”. Repulsa é “um traço comum, uma semelhança de família” da arte produzida hoje “não só na América e na Europa, mas ainda nos países da Europa central que recentemente se abriram à modernidade ocidental”. A língua francesa, contudo, permite um jogo de palavras entre goût (gosto) e degoût (repulsa/ nojo) de que não dispomos no inglês, já que aí não encontramos nenhum nexo de morfemas em taste e disgust. Isso nos permite parafrasear a visão do fim da arte (la fin de l’art) de Jean Clair como o fim do gosto – um estado de coisas em que o repulsivo passa a tomar a posição antes ocupada pelo gosto. De fato, como percebe Jean Clair, isso expressa o triste declínio da arte através dos últimos séculos: “Do gosto... nós passamos ao repulsivo/ nojo”. É bem verdade que o gosto, como conceito normativo, foi a categoria reguladora do século dezoito, quando a disciplina da Estética era dominante. O gosto era essencialmente conectado com o conceito de