arte
Noeli Ramme*
I
É só a partir do final da década de 50 que se pode realmente falar da existência de uma estética de cunho analítico. Não por acaso, essa investigação acerca da natureza da arte será marcada tanto pela reviravolta pragmática operada por Wittgenstein nas Investigações Filosóficas quanto pela revolução duchampiana na arte, precursora das inovações radicais da Pop art, do Minimalismo e do Fluxus, os principais movimentos artísticos do período.
Assim, se, por um lado, a teoria dos usos da linguagem permitiu à filosofia analítica superar os limites de uma filosofia dedicada quase que exclusivamente às questões da lógica e da fundamentação das ciências, por outro lado, os movimentos artísticos da década de 60 colocaram novas questões ao romper com praticamente todos os limites da arte que estavam estabelecidos dentro da prática modernista. Por exemplo, o Fluxus com sua ênfase na produção coletiva, rompe com a idéia de autoria; o Minimalismo, por sua vez, coloca em xeque a idéia de experiência estética como mera contemplação e a Pop ultrapassa definitivamente todos os limites da arte ao instaurar a possibilidade de apresentar como arte quaisquer objetos tirados
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Professora Visitante do Departamento de Filosofia da UERJ.
ANALYTICA, Rio de Janeiro, vol 13 nº 1, 2009, p. 197-212
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É POSSÍVEL DEFINIR “ARTE”?
volume 13 número 1
2009
do mundo comum. Dados todos esses deslocamentos das fronteiras da arte, a pergunta “o que é arte?” torna-se premente não só dentro do universo filosófico, mas também no campo da prática e da teoria da arte.
Um dos primeiros filósofos de formação analítica a tratar da questão da definição da arte foi Morris Weitz, em um artigo de 1954, chamado“O papel da teoria na estética”1. Além de considerar a pluralidade de formas artísticas que compõe a história da arte ocidental, Weitz parte também da consideração da existência de inúmeras definições mutuamente excludentes