Mulheres e semblantes - Psicanalise

1. Quais são as razões que levaram J. Miller a utilizar a personagem principal Zazie no metrô para exemplificar o cinismo feminino?
Dizer de um cinismo feminino pode ser algo audacioso. Um cinismo que não se pronuncia aproxima-se mais de sua veracidade e talvez seja isso o que torna as mulheres mais ligadas ao real. Tal proximidade pode ser explicada pela relação que elas tem com a castração, diferentemente dos homens. Assim, o semblante pode representar o cinismo feminino e a personagem Zazie o exemplifica. Zazie encarna, de alguma maneira, uma instância, um questionamento através da fala do louro “Falas, falas, não sabes fazer outra coisa”. Outra razão pela escolha da personagem para exemplificar o cinismo feminino é observada na famosa expressão de Zazie “me importa o caralho”. Esta perfura, penetra semblantes, mostra o estatuto de semblante de tudo que ocupa as pessoas que a rodeiam, especialmente as masculinas. A fala de Zazie revela o seu desprezo pelos semblantes (da cultura), podendo ser aplicada a tudo o que se trama na civilização. Miller nota que tal denuncia dos semblantes só pode ser feita a partir de um semblante. Zazie, portanto, encarna o cinismo feminino, a hostilidade das mulheres ao semblante.

2. Como se pode compreender o feminino diferenciando-o do ponto de vista de Freud e o de Lacan?
A psicanálise constitui em si mesmo um desmentido do semblante do homem e justifica a posição que Freud atribui às mulheres. Parecendo ser uma desvalorização de Freud quanto ao feminino, na verdade, Freud não revela outra posição senão a que também suspeita do amor ao próximo.
Para Lacan, há somente mulheres e A mulher não existe. Isso significa dizer, na verdade, que o lugar da mulher existe, mas permanece fundamentalmente vazio. Vazio pois o que se encontra ali são máscaras, respondendo, assim, a ligação entre mulheres e semblantes, os que velam o nada.
Diferenciando-se de Lacan, Freud falava somente de uma diferença anatômica da mulher, afirmando que