Mulheres e semblantes II
Ano 1 • Número 1 • Março 2010 • ISSN 2177-2673
Mulheres e semblantes II1
Jacques-Alain Miller
Semblantes outra vez.
Desta vez, implicados nas relações entre os sexos.
A propósito, onde estão os homens? Talvez estejam mais cativados pelos semblantes do que as mulheres. Talvez as mulheres estejam mais próximas do real de tal maneira que, ao falar de mulheres e semblantes, sejam os homens que estão no lugar do semblante.
Hesíodo, em sua Teogonia, matriz de um enorme número de mitos parece ter sido o primeiro a falar da raça das mulheres: genos e gynaikon.
Depois, a partir dele, na
literatura grega da antiguidade, se fala das mulheres em termos de ikelon, que significa esboço, cópia; de dolos, que significa logro e de pema, que significa praga. Isso quer dizer que caluniar as mulheres é coisa que começou há muito tempo. Semónides, da cidade chamada Amorgos, já havia escrito um poema chamado Iambi, no qual não fala de genos gynaikon, mas
das
tribos
de
mulheres.
Nesse
poema,
recentemente reeditado na Inglaterra, enumera as mulheres.
Esse poema é um catálogo, certamente feito sem conhecer o
Dom Juan de Mozart, que enumera tipos de mulheres que não chama de genos, mas de phila, espécies. A primeira palavra do poema
atualmente
é
Koris, se que
entende,
se
traduz
depois
de
como
Lacan,
de que lado, se mas deve traduzir como segundo a diversidade. Não segundo a unidade, mas segundo a diversidade. É com essa palavra que Semônides começa seu poema.
Opção Lacaniana online nova série
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Mulheres e semblantes II
Entre
outras
coisas,
tenho
a
ideia
arriscada
de
acrescentar um tipo ao seu catálogo. Um tipo de mulher.
Vamos encontrá-la no transcurso dessa hora.
As citações mencionadas são suficientes para se pensar que a formulação de Lacan de que A mulher não existe e que há somente mulheres, era algo