Psicologia Hospitalar
[1] A medicina hoje aparece mais do que nunca como um produto da conjunção da ciência com o discurso capitalista. A corrida pela descoberta da vacina da Aids, a medicalização crescente não mais apenas da doença mas principalmente da saúde, a fabricação de novas demandas endereçadas ao médico, a biologização dos ideais estéticos, a hormonização de processos antes naturais, tudo isso e muito mais é impulsionado pela mão, não mais tão invisível como queria Adam Smith, que regula um mercado ferozmente competitivo. Essa “mão” hoje dita as linhas de pesquisa científica a serem seguidas, por que é ela quem as financia: essa “mão” é que escreve os currículos dos médicos-cientistas fazendo-os aparecer como figuras do mestre moderno,quando, de fato, estão a serviço do discurso do capitalista, que constitui, como mostraLacan em Televisão, o discurso dominante de nossa civilização, responsável portanto por seu mal-estar.
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“Marx , disse Lacan, foi o primeiro a ter a idéia do que é um sintoma”.
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Esse sintoma, relativo ao discurso capitalista, é a conhecida jornada de trabalho, onde se revela a mais-valia, e que obedece a um imperativo, ou em seus termos, a um “apetite”, a uma “cupidez cega”, que não há lei que o barra, pois “parece ser para muitos fabricantes uma tentação grande demais para que possam resistir a ela.”
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Esse gozo do sintoma social aplicado à Medicina faz os médicos horrorizados se reunirem em Comitês de Ética e apelarem ao Legislativo para que fabrique leis capazes de refrear “a paixão desordenada do capital”.Um exemplo pitoresco disso é o desenvolvimento do que se chama de “a psicologia do consumidor”. Sendo a sociedade de consumo a expressão mais banal do discurso do capitalista, que promove um endividamento progressivo do indivíduo e uma alienação crescente ao Outro do apelo comercial que multiplica objetos imaginários de desejo, nada mais lógico do que se detectar novos sintomas e