Interpretação e sentido
ESTRATÉGIAS DE LEITURA: O UNIVERSO DO TEXTO E DO DISCURSO
Mesa: Léxico, discurso e interpretação
Interpretação e Sentido
Fernando Afonso de Almeida (UFF)
Considerações iniciais
No artigo intitulado “Da subjetividade da linguagem”, Benveniste (1988) afirma que a linguagem é parte constitutiva do homem, e não uma ferramenta que lhe seria exterior, como a picareta, a flecha e a roda, as quais não se encontram na natureza, pois são fabricadas. Inicia seu artigo perguntando-se: “Se a linguagem é, como se diz, instrumento de comunicação, a que deve ela essa propriedade? E acrescenta logo em seguida: “A pergunta pode surpreender, como tudo o que parece questionar a evidência, mas às vezes é útil pedir à evidência que se justifique” (1988: 284). Esse questionamento da evidência proposto por Benveniste revela uma percepção etnográfica por parte do autor, ao sugerir que, se concebemos os fatos desta ou daquela forma, é porque nossa cultura nos ensina a enxergá-los assim. Por isso nos parecem “naturais”. Não significa, entretanto, que não mereçam ser investigados.
De modo semelhante, o presente artigo pretende questionar uma evidência relativa ao funcionamento da linguagem, evidência essa que diz respeito especificamente à noção de sentido. É comum conceber-se o sentido como algo que, uma vez produzido internamente por um sujeito, pode adquirir uma existência exterior e ser dotado de uma configuração precisa e indiscutível. Assim, depois de adquirir como que um “corpo configurado”, o sentido poderia transitar, ser colocado no mundo, transmitido, captado, observado, comunicado e traduzido. Sua ligação maior seria então com as palavras, as quais seriam, por sua vez, como observa Benveniste, apenas “instrumentos” utilizados para sua comunicação. Com efeito, é grande o número de expressões referentes ao sentido que atestam essa concepção: transmitir idéias, captar a mensagem, entender o que foi dito,