instabilidade
Igor Bezerra
Em “A desumanização da arte”, Ortega y Gasset coloca que a arte jovem (neste tocante se refere ao cubismo e expressionismo) tem por primeira característica tratar o objeto a ser representado da maneira menos humana possível, e daí o título do ensaio. Ainda diz o filósofo espanhol que se trata de uma arte artística, uma vez que causava estranhamento ao público de então (o texto é de 1924), o qual ainda não tinha, digamos assim, uma educação visual para compreender ou assimilar aquela estética que se anunciava. Entretanto, das características dessas vanguardas a mais importante vem a ser a intranscendência desta arte, auferida através de uma influência negativa da arte romântica, a qual pretendia solucionar o mundo através da fruição estética (neste sentido veja-se Schopenhauer, por exemplo). É bem verdade que, se ficarmos com Amy Dempsey, a partir de 1918, temos a busca de uma nova ordem e, portanto, uma vanguarda como o surrealismo não pode compartilhar deste valor intranscendente.
Mas volte-se algo antes e teremos a intranscendência na arte por excelência: o dadaísmo. Desde o seu batizado, ao se escolher um nome que nada quer significar, já se apreender o espírito deste movimento: eles aspiram a nada significar. Isto se percebe na poesia de recorte e colagem de jornal, por exemplo. Contudo, a grande expressão do movimento vem a ser o francês Marcel Duchamp e, mais especificamente o advento do ready made. Ora, ao estabelecer que um objeto já fabricado – como um mictório, o primeiro ready made – tem status artístico, Duchamp consegue erradicar toda e qualquer transcendência na arte: já não é mais uma arte que pretende revelar verdade, representar a natureza, ou, sequer, arte pela arte. É o próprio cheque desta. E mesmo isso seja sintomático, como se perceberá adiante. Nunca antes se pensou um rebaixamento tão grande em relação à arte. E também não seja por acaso que depois do Dada passa-se para a