Hospital
Renata Soares da Costa Santos2
Introdução
O médico Miguel Pereira, após conhecer vítimas da doença de Chagas no ano de 1910 na região de Lassance, Minas Gerais, pronunciou o seguinte: “Não, meus caros colegas, não é através das vidraças de um hospital que todos nós, médicos e patriotas, trememos pelo futuro da pátria” (BANQUETE, 1916). A fala é emblemática de um momento crucial da história da saúde brasileira em que o foco não se limitou ao hospital, enquanto espaço físico, mas voltou-se para problemas de saúde dos grandes centros urbanos, passando a abranger as doenças endêmicas das populações rurais. A transição a que alude a fala de Miguel Pereira nos leva à ambiência na qual foi projetado e construído o Hospital de Manguinhos, no Rio de Janeiro, então capital do Brasil. O Hospital de Manguinhos é objeto de investigação desse trabalho, assim como o Hospital Colonial de Lisboa, edificado na capital portuguesa. A partir da comparação desses espaços, o presente estudo almeja fecundos contrapontos entre Brasil e Portugal nas primeiras décadas do século XX, quando se valeram daquelas instituições como lugares de assistência médica e, sobretudo, da prática de pesquisa em doenças tropicais. O primeiro hospital, voltado para a vasta e ainda desconhecida interlândia do Brasil, o segundo para as longínquas possessões que Portugal buscava conservar em uma conjuntura de crescentes disputas entre as potências coloniais europeias. Ambos hospitais abrigaram estudos que contribuíram para ampliar os horizontes da medicina tropical e, consequentemente, para garantir a esses países um papel de destaque no cenário científico internacional nas três primeiras décadas do século XX, em particular no campo das tripanossomíases humanas, com a doença do sono na África e a doença de Chagas na América do Sul. Com isso, nosso objetivo consiste em