Acusações ao pai por tê-la feito adoecer, e mais a auto-acusação por trás disso; leucorréia, brincadeira com a bolsinha; enurese depois dos seis anos; e um segredo que não se queria deixar arrancar pelos médicos: considero estabelecida sem nenhuma lacuna a prova circunstancial da masturbação infantil. No caso de Dora, eu começara a suspeitar da masturbação quando ela me falou sobre as dores estomacais da prima (ver em [1]) e em seguida se identificou com ela, queixando-se por dias a fio de sensações dolorosas similares. É sabido que, com freqüência, as dores gástricas surgem justamente nos masturbadores. Segundo uma comunicação pessoal que me foi feita por Wilhelm Fliess, são precisamente essas as gastralgias passíveis de ser interrompidas mediante a aplicação de cocaína no “ponto gástrico” por ele descoberto no nariz, e curadas mediante sua cauterização. Dora me confirmou ter consciência de duas coisas: de que ela mesma sofrera muitas vezes de espasmos gástricos e de que tinha boas razões para considerar sua prima uma masturbadora. É muito comum os pacientes reconhecerem em outros uma relação que suas resistências emocionais os impossibilitam de reconhecer em sua própria pessoa. Dora não mais negou essa relação, embora ainda não se lembrasse de nada. Até mesmo a cronologia da enurese, durando “até pouco antes do surgimento da asma nervosa” (ver em [1]), parece-me clinicamente valorizável. Os sintomas histéricos quase nunca se apresentam enquanto as crianças se masturbam, mas só depois, na abstinência; constituem um substituto de satisfação masturbatória, que continua a ser desejada no inconsciente até que surja alguma outra satisfação mais normal, caso esta ainda seja possível. Dessa última condição depende a possibilidade de cura da histeria pelo casamento e pelas relações sexuais normais. Caso a satisfação no casamento volte a ser interrompida - por exemplo, devido ao coito interrompido, ao distanciamento psíquico etc. -, a libido torna a refluir para seu