Habermas, Jürgen - O Caos na Esfera Pública
Publicado no caderno Mais+, Folha de S. Paulo, 13 de agosto de 2006
Novas tecnologias, sobretudo a TV, modificam o palco de aparição do intelectual, aguçam sua vaidade natural e o forçam a competir com políticos e jornalistas pela atenção do público
JÜRGEN HABERMAS
Quando o diretor do Instituto Karl Renner me comunicou a agradável notícia de que o júri pretendia conferirme no corrente ano o Prêmio Bruno Kreisky
[por avanços na área de direitos humanos; Kreisky
(191190) foi ministro das Relações Exteriores da
Áustria], não me senti apenas motivado a refletir sobre o aspecto irritante da situação feliz, de encontrar tanto reconhecimento imerecido, após décadas de conflitos e de uma imagem tendencialmente controvertida.
Após um estudo mais convencional de filosofia, ingressei em 1956 no meio pouco familiar do Instituto
Frankfurtiano de Pesquisas Sociais, onde tive de me familiarizar durante os preparativos de uma pesquisa empírica também com a bibliografia (então ainda exclusivamente jurídica) sobre o Estado de Direito e a democracia. Por um lado, os debates entre os grandes
representantes da teoria do direito do Estado da
República de Weimar me pareceram estimulantes, mas não consegui estabelecer uma relação mais apropriada entre os conceitos normativos da ciência jurídica e a teoria da sociedade sob cujo influxo tentava compreender a realidade política da atualidade de então.
Estado de Direito
Foi a leitura de um livro que me abriu os olhos para o nexo entre economia política e direito. Publicado em
1929 sob o título áspero "Os Institutos Jurídicos do
Direito Privado e a Sua Função Social", remontava a estudos realizados pelo jovem Karl Renner na virada do século, quando seu autor trabalhava como bibliotecário do Parlamento austríaco de então.
Foi assim que entrei em contato com os escritos dos marxistas austríacos, nos quais encontrei três idéias de cuja