zabatiero
Júlio Paulo Tavares Zabatiero1
Resumo: O objeto deste ensaio é a análise crítica do posicionamento atual de Jürgen Habermas sobre o papel da religião no debate público. A partir da análise de dois textos recentes do mesmo sobre o tema, comparando-os com escritos anteriores, o ensaio aponta as mudanças na descrição habermasiana do papel da religião na esfera pública e em seu conceito de sociedade secular para sociedade pós-secular. Após a análise dos textos, uma avaliação crítica é oferecida, destacando-se os valores e alguns dos limites do novo posicionamento de Habermas sobre o tema. Palavras-Chave: Habermas – religião – esfera pública – secularização – sociedade pós-secular.
Introdução
Em sua Teoria da Ação Comunicativa, Jürgen Habermas descreveu as sociedades a partir de uma releitura dos clássicos da Sociologia. Para ele, nas sociedades modernas, a religião se tornou uma questão puramente privada, reduzida à esfera do indivíduo e, mesmo nela, com pouca ou nenhuma capacidade de orientar a conduta. Enquanto crença privada, a religião não pode desempenhar qualquer papel na esfera pública secularizada, na qual somente argumentos racionalmente validados podem ser apresentados ao debate. Estados laicos desenvolvem constituições e sistemas de direito igualmente laicos, que devem ser imunes à influência da religião. Cabe à filosofia fazer a apropriação dos
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Doutor em Teologia pela Escola Superior de Teologia (EST). Professor da EST (Instituto
Ecumênico de Pós-Graduação em Teologia) e da Faculdade Unida de Vitória. E-mail:
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Zabatiero, J. P. T. Cadernos de Ética e Filosofia Política 12, 1/2008, p. 139-159.
potenciais semânticos de verdade nas religiões e traduzi-los para a linguagem racionalizada secular. Esta era, grosso modo, a compreensão habermasiana sobre a religião no início da década de 1970, posição mantida até a primeira metade dos anos 1990, quando passa a dedicar
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maior atenção ao tema da