O fato é que no Século XXI, o trabalho remunerado assume cada vez mais um papel central em nossas vidas. Muitas vezes invadindo espaços, até então privados. A tecnologia que se apresenta como uma facilitadora dessa rotina, na prática aumenta ainda mais essa tensão entre a conciliação do trabalho e vida privada. E sentimos falta de um tempo, que é cada vez mais raro: um tempo para si, ou um tempo para o ócio. Tempo fundamental para refletirmos, inclusive, sobre a nossa concepção de trabalho. Uma alternativa talvez seja ampliar a nossa visão do que é trabalho. “trabalho” não é sinônimo de trabalho remunerado. Trabalho é um pouco mais do que isso. Sabemos que o trabalho remunerado é um elemento fundamental para construção da nossa identidade e da nossa própria sobrevivência em uma sociedade de consumo. Porém, compartilho da noção de portfólio de trabalho. Cada indivíduo deveria desenvolver ao longo da sua trajetória um portfólio de trabalho, no qual além do trabalho remunerado, outros trabalhos seriam contemplados, como o estudo, o trabalho doméstico e o trabalho voluntário. Isso tudo é trabalho também, e muitas vezes esquecemos disso. Caso essa concepção mais ampliada do que é trabalho não nos ajude a repensar a forma como lidamos com o nosso cotidiano, pelo menos vai nos ajudar a não sentir um vazio tão grande quando o trabalho remunerado não estiver presente em nossas vidas. Infelizmente, em uma sociedade na qual o papel de “viciados em trabalho” ainda é valorizado, a busca por maiores resultados é recorrente e as estruturas organizacionais estão cada vez mais enxutas, construir esse portfólio fica ainda mais difícil. Por mais que no discurso oficial das organizações e da imprensa, a qualidade de vida é um tema recorrente, na prática, ainda “pega mal” não dedicar tantas horas ao trabalho remunerado.