genealogia e o poder
Michel Foucault No curso proferido no dia 07 de janeiro de 1976, no Collège de France, Michel Foucault começa sua aula explicando que gostaria de concluir uma série de pesquisas que acabaram acumulando alguns inconvenientes. Segundo o filósofo, essas pesquisas tinham se tornado por demais repetitivas e dispersas, seguindo os mesmos caminhos, caindo e retomando os mesmos temas e conceitos. Temas como a história do procedimento penal, a evolução e institucionalização da psiquiatria no século XIX, a história da sexualidade, acabaram, segundo Foucault, se arrastando, se repetindo e não se articulando. A esse trabalho fragmentário, repetitivo e descontínuo, o próprio autor chamou-lhe de “preguiça febril” (FOUCAULT, 2012, p. 263). Essa “preguiça febril”, por suas próprias palavras, seria aquela que afeta pesquisadores amantes de bibliotecas, documentos, escritos empoeirados e textos nunca lidos. “Pesquisas que conviria muito bem a inércia profunda dos que professam um saber inútil, uma espécie de saber suntuoso, uma riqueza de novos-ricos cujos signos exteriores estão localizados nas notas de pé de página” (FOUCAULT, 2012, p. 263). Porém, para o autor de Vigiar e Punir, não foi só o gosto por essa “maçonaria” que acabou o levando a fazer suas pesquisas. Num período de dez a vinte anos, Foucault acabou notando dois fenômenos de extrema importância. O primeiro o chamou de eficácia das ofensivas dispersas e descontínuas. Para explicar esse fenômeno, o autor considera a estranha eficácia do funcionamento da instituição psiquiátrica, dos discursos da antipsiquiatria, dos discursos sem uma sistematização global, aplicados à inicial análise existencial, ao marxismo e à teoria de Reich. Por outro lado, considerou também, a estranha eficácia dos ataques contra a moral, a hierarquia tradicional, o aparelho judiciário e penal. De acordo com Foucault (2012), assistimos há dez ou quinze anos uma imensa proliferação de críticas