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crise da medicina ou crise da antimedicina1 michel foucault
Como ponto de partida desta conferência, gostaria de me referir a um tema que começa a ser discutido no mundo inteiro: a crise da medicina, ou mesmo a crise da antimedicina. Mencionarei, a respeito, o livro de Ivan Illich
Medical Nemesis — The expropriation of health,2 que, tendo em vista a ressonância que obteve e não deixará de crescer nos próximos meses, chama a atenção da opinião pública mundial para o problema do funcionamento atual das instituições do saber e do poder médicos.
Para analisar este fenômeno, porém, partirei de uma data bem anterior, os anos 1940-1945; mais exatamente, o ano de 1942, quando foi elaborado o famoso Plano
Beveridge que, na Inglaterra e em muitos outros países, serviu de modelo à organização da saúde depois da Segunda Guerra Mundial.
A data desse Plano tem um valor simbólico. Em 1942, em plena Guerra Mundial, na qual perderam a vida 40 milhões de pessoas, consolida-se não o direito à vida, mas um
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direito diferente, mais rico e complexo: o direito à saúde.
Num momento em que a guerra causava grandes estragos, uma sociedade assume a tarefa explícita de garantir a seus membros não só a vida, mas a vida em boa saúde.
Além desse valor simbólico, a data reveste-se de importância por várias razões:
1. O Plano Beveridge indica que o Estado se encarrega da saúde. Poder-se-ia dizer que não se trata de uma inovação, pois, desde o século XVIII, uma das funções do
Estado — se não a fundamental, pelo